Comediante fala ao DIVIRTA-CE sobre novo show, sucesso do “Webbullying” e experiência na TV Globo
Maurício Meirelles é um dos nomes mais criativos e inquietos do stand-up nacional. Conhecido pelo quadro “Webbullying”, em que convida pessoas da plateia a cederem suas redes sociais para uma experiência cômica imprevisível, o humorista consolidou sua carreira transitando entre a televisão, o rádio, o teatro e a internet. Em cada espaço, ele leva uma mistura de acidez, inteligência e leveza que conquistou milhares de fãs no Brasil e fora dele.
Na televisão, ele se destaca à frente do programa “Aberto ao Público”, exibido pela TV Globo, além de comandar entrevistas profundas no canal Achismos TV, no YouTube. Essa versatilidade o consagrou também como apresentador e entrevistador, mostrando um olhar que vai além da comédia pura e simples. Para ele, ouvir histórias reais de pessoas comuns ajuda a enriquecer sua criação no stand-up, tornando as piadas mais plurais e próximas do público.
De volta aos palcos com um show, Maurício equilibra piadas inéditas com o já clássico “Webbullying”. O comediante conversou com o DIVIRTA-CE sobre o desafio de se reinventar, o impacto de sua passagem pelos Estados Unidos, a polêmica em torno do humor na era do cancelamento e a experiência de levar seu humor irreverente para a maior emissora do país.
DIVIRTA-CE – Seu novo show traz uma mistura de textos inéditos e o já consagrado “Webbullying”. Como você equilibra a expectativa do público por esse quadro clássico com a necessidade de se reinventar e apresentar um humor novo, mais maduro?
MAURÍCIO MEIRELLES – Por isso eu faço um show que tem tanto textos mais maduros, para o pessoal da minha idade, quanto o ‘Webbullying’, que é uma brincadeira que a molecada curte mais. Mas, no final das contas, os dois agregam a todas as idades. Acho que a brincadeira tem também uma crítica que os mais velhos gostam, e os textos trazem muita mensagem que os jovens curtem. Então é um show para todas as idades.
DIVIRTA-CE – Você percorreu os Estados Unidos com essa turnê antes de estrear no Brasil. Quais diferenças culturais você sentiu ao fazer humor para brasileiros fora do país, e como isso influenciou o refinamento dos textos para a temporada brasileira?
MAURÍCIO MEIRELLES – Não tem muita diferença, não, porque no fundo são brasileiros. A única diferença é que eles estão mais acostumados com esse formato de comédia, porque por lá existe muito. Mas, tirando isso, é a mesma comédia que agrada brasileiro. Quando você faz um show nos Estados Unidos, você está falando com pessoas de lugares diferentes do Brasil, então o show se torna mais nacional do que regional.
DIVIRTA-CE – O “Webbullying” sempre foi uma proposta de interação direta e imprevisível com a plateia. Em tempos de cancelamento e hipersensibilidade digital, como você enxerga a evolução desse quadro e a responsabilidade de provocar sem cair no óbvio? E como foi estrear o “Webbullying” na TV Globo?
MAURÍCIO MEIRELLES – Eu nunca me preocupei muito com o cancelamento. A ideia do quadro é simplesmente uma bobeira, uma risada mais leve, uma brincadeira com uma plataforma que todo mundo utiliza. Estrear isso na TV Globo foi muito bom, porque lá estão grandes nomes da comunicação, e fazer uma brincadeira tão boba com nomes sérios fica muito mais divertido. O quadro é muito mais sobre leveza do que polêmica.
DIVIRTA-CE – Comandando programas como o “Aberto ao Público” na Globo e entrevistas profundas no Achismos TV, você tem mostrado um lado de entrevistador e pensador. Como essa experiência de ouvir, e não só falar, tem impactado sua construção de piadas e de shows de stand-up?
MAURÍCIO MEIRELLES – Eu gosto muito desse lado filosófico, porque acho que a comédia tem muita filosofia. O ‘Achismos’ é o lugar onde eu mais escuto, e isso me ajuda a entender mais o Brasil. Em tempos de internet e algoritmo, onde todo mundo só consome o que já gosta, eu fui pro caminho oposto: consumir o que eu não conheço. Entender como pensam pessoas tão diferentes enriquece o conteúdo. Quanto mais a gente sai da bolha, mais interessante fica.
DIVIRTA-CE – Seu humor sempre foi marcado por um olhar ácido sobre as contradições da sociedade. Existe algum tema ou situação atual que você considera um verdadeiro “desafio cômico” pela complexidade ou polêmica?
MAURÍCIO MEIRELLES – Não existe tema que seja um desafio cômico em si. O desafio está na forma como você fala sobre ele, porque as pessoas são mais sensíveis em alguns assuntos. Eu acredito que dá pra fazer piada sobre tudo, mas você precisa saber como. Então, não existe assunto proibido, existe a forma certa de falar.
DIVIRTA-CE – Ao longo da carreira, você transitou entre formatos como TV aberta, internet, rádio e teatro. Qual desses ambientes mais desafiou a sua criatividade e qual deles te permitiu ser o Maurício mais ‘sem filtro’?
MAURÍCIO MEIRELLES – Com certeza o palco. É dele que eu extraio material pra internet e pra TV Globo. O palco é onde fico mais à vontade, onde nada é censurado, cortado, editado ou podado. É o lugar onde eu consigo ser 100% eu diante do meu público. Se você nunca teve oportunidade de ir ao meu show, vá: vai ver que é totalmente diferente do que aparece nas redes sociais.
DIVIRTA-CE – Na sua visão, qual é o limite entre humor provocador e humor gratuito? Você já descartou piadas ou roteiros inteiros por achar que estavam batendo onde não deviam, ou acredita que toda piada tem o direito de existir?
MAURÍCIO MEIRELLES – Acho que toda piada tem o direito de existir, e toda reclamação de piada também tem o direito de existir. O meu estilo é trazer reflexão, ser ácido e questionador, mas sem ofensa. Claro que no ‘Webbullying’ aparece também o humor gratuito, a piada pela piada, e está tudo bem. Uma piada pode ser só uma piada, ou pode carregar acidez, crítica, provocação.
DIVIRTA-CE – Vivemos uma era em que o público muitas vezes quer rir, mas também ser ‘ensinado’ ou ‘inspirado’. O seu show tem um lado de entretenimento puro, mas você sente que existe um papel de reflexão social nas suas piadas, mesmo quando a plateia só quer dar risada?
MAURÍCIO MEIRELLES – Não acho que exista um único público. Tem gente que vai ao show pra ouvir piadas sobre política, outros pra dar risada sem pensar em nada, outros ainda buscando reflexões. Eu tento oferecer o máximo de ferramentas possíveis: tem momentos do show que são bem reflexivos, e outros que são pura risada. Quem vai ao show entende essa mistura.
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