quinta-feira, 27 de novembro de 2025

ENTREVISTA: "Eh do Cariri" , a nova imersão cultural de Max Petterson, estreia no YouTube

Série-documental apresenta o Cariri cearense a partir do olhar de sete artistas convidados 

O ator e criador cearense Max Petterson lançou no YouTube a série "Eh do Cariri", dirigida por Andrezza Cruz e realizada pela Wavi, reunindo artistas nacionais em uma imersão pela tradição, memória e espiritualidade do Cariri. Gravado em locais como a Fundação Casa Grande, o ateliê de Espedito Seleiro e a Festa do Pau da Bandeira, o projeto propõe um retrato contemporâneo de uma das regiões culturais mais vibrantes do país.
Em entrevista ao DIVIRTA-CE, Max destaca o impacto da experiência: “Acompanhar as reações deles diante de algo que para mim era cotidiano é especial, porque faz com que eu valorize ainda mais aquilo que sempre esteve ali.”
Gravado entre os dias 30 de maio e 1o de junho de 2025 na região do Cariri cearense, o documentário promoveu uma imersão cultural inédita reunindo sete artistas nacionais — Silvero Pereira, Chandelly Braz, Eva Pacheco, Giovanna Lima, Lucas Pizane, Tiago Abravanel e Morgana Camila — em uma jornada de três dias pelo coração do Cariri.

Durante o percurso, os convidados vivenciaram tradições, visitaram espaços simbólicos e conheceram mestres e projetos que mantêm viva a memória da região. A experiência passou por locais icônicos como a Fundação Casa Grande (Nova Olinda), o ateliê do Mestre Espedito Seleiro, o Museu do Padre Cícero, e culminou nas celebrações da Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, em Barbalha — um dos maiores eventos populares do Nordeste.
Mais do que um registro documental, “Eh do Cariri” é uma declaração de amor à identidade caririense, revelando as camadas de religiosidade, tradição, arte, música e hospitalidade que fazem da região um dos polos culturais mais ricos do Brasil.
Cada capítulo apresenta um olhar diferente sobre o Cariri — misturando emoção, humor, descoberta e pertencimento —, reforçando o compromisso de Max em trazer visibilidade à cultura do interior do Ceará através de uma linguagem contemporânea, acessível e inspiradora.
Outros trabalhos Formado em Teatro pela Universidade Paris 8, Max viveu uma década em Paris, onde trabalhou em uma boutique de grifes como Chanel e Louis Vuitton. Dessa vivência nasceu um olhar refinado sobre moda e identidade cultural, que hoje se reflete na sua marca Espilicute, referência em criatividade e valorização do Nordeste. Já no audiovisual, ele participou de Bem-vindo a Quixeramobim (Globo Filmes – Melhor Filme de Comédia), Cangaceiro do Futuro (Netflix) e As Aparências Enganam (Disney), além de rodar o país com o espetáculo de stand-up “Assistiu Porque Quis”.
DIVIRTA-CE - Max, você sempre levou o Nordeste para o mundo - seja nas redes, no humor, na moda ou no cinema. Agora, com "Eh do Cariri", você traz o mundo para dentro do Cariri. Em que momento dessa imersão você percebeu que estava não só apresentando a região, mas também reaprendendo o Cariri a partir do olhar dos sete artistas convidados?
MAX PETTERSON - É sempre muito bonito e sempre uma nova reação trazer pessoas novas para um universo que já era meu por natureza. Nós que crescemos naquela cultura, naquela realidade, achamos tudo lindo, gostamos, mas já estamos acostumados. Quando você vê a reação de alguém que está chegando agora, em estado de choque, emocionado... isso muda tudo. No documentário, vocês vão ver a Morgana chorar, o Tiago Abravanel se emocionar com o acolhimento das pessoas. É uma energia muito forte. Acompanhar as reações deles diante de algo que para mim era cotidiano é especial, porque faz com que eu valorize ainda mais aquilo que sempre esteve ali.

DIVIRTA-CE - O documentário atravessa lugares-símbolos como a Fundação Casa Grande e o ateliê do Mestre Espedito Seleiro, ao mesmo tempo em que mergulha na energia coletiva da Festa do Pau da Bandeira. Como você e a diretora Andrezza Cruz trabalharam a narrativa para equilibrar memória, espiritualidade, festa e política cultural sem transformar o Cariri em uma "estética folclorizada"?
MAX PETTERSON - Foi um verdadeiro jogo de cintura. Primeiro porque eu precisei apresentar o Cariri para a Andrezza. Ela é do Rio, talentosíssima, e sabíamos que o olhar dela ia agregar muito e agregou. Mas, no começo, eu precisei fazer um 'Eh do Cariri' só com ela, para que mergulhasse profundamente na nossa energia. Era importante que ela entendesse nossas camadas para conseguirmos transportar isso para a tela. Foi uma imersão gigante para os dois lados. E não tinha como transformar o Cariri em algo folclorizado, porque o Cariri já é completo. Ele não é uma estética: é cultura, religiosidade, ancestralidade. Nosso trabalho foi apenas uma seleção dolorosa, inclusive porque muita coisa não coube. A desculpa foi: 'isso fica para o ano que vem'. Essa primeira temporada foi escolhida a dedo para despertar curiosidade em quem nunca veio e fazer essa pessoa querer conhecer.

DIVIRTA-CE - A série reúne artistas de origens, repertórios e linguagens muito diferentes. Que fricções, descobertas ou até "choques de mundo" surgiram durante essa convivência de três dias? Houve algum momento em que você, anfitrião, também se sentiu visitante
MAX PETTERSON - A gente está sempre como visitante. Cada vez que você passa por um lugar, ele nunca está como você deixou sempre há uma descoberta nova. Estar com o Zeca Camargo no Cariri, por exemplo, foi um ápice. Eu cresci vendo o Zeca como um jornalista viajante, o cara das culturas do mundo. Ele só tinha ido ao Cariri nos anos 80. Dessa vez, ele viu o Cariri pelos meus olhos. Poder mostrar minha terra para alguém que me mostrou tantos lugares pela televisão foi muito especial. Com a Chandelly Braz também foi uma realização. Trabalhamos juntos por dois anos e eu falava muito sobre o Cariri. Levá-la para lá foi como cumprir um sonho interno. O projeto é isso: reunir pessoas que admiro e apresentar o Cariri para elas. Foi prazeroso e, ao mesmo tempo, um combo perfeito de mídia, difusão e propagação da nossa cultura.

DIVIRTA-CE - Você viveu uma década em Paris, estudou na Universidade Paris 8 e trabalhou em ambientes altamente cosmopolitas e de luxo. Como esse olhar treinado na moda - que pensa em detalhe, textura, identidade e narrativa - influenciou a forma de mostrar o Cariri para um público global sem perder o que ele tem de mais íntimo e verdadeiro?
MAX PETTERSON - Minha década em Paris foram muitas lapadas da vida. Eu fiquei muito refinado, Paris me lapidou profissionalmente. Trabalhar com moda me deu um olhar crítico e atento aos detalhes. Em vários momentos, especialmente em fashion weeks, eu via coisas que já tínhamos no Cariri. Uma grife francesa lançou bolsas de palha e eu pensei: 'isso é Juazeiro do Norte'. A Prada lançou sandálias de couro e eu reconheci aquilo de imediato. Essas experiências me fizeram enxergar o valor do que é nosso. Aprendi a observar o que é de fora, mas também a valorizar profundamente o que está dentro da minha identidade, minha região, minha cultura. Então esse olhar cosmopolita me ajudou justamente a mostrar o Cariri ao mundo sem inventar nada. Bastou mostrar o que ele já é: sofisticado, ancestral e verdadeiro

DIVIRTA-CE - "Eh do Cariri" nasce como declaração de amor, mas também como posicionamento político: afirmar o interior do Ceará como potência criativa do país. Que respostas você espera provocar no público nacional - e especialmente no público cearense - sobre pertencimento, autoestima e centralidade cultural do Cariri?
MAX PETTERSON - Eu tenho três vertentes de resposta. Para o público nacional, quero estimular curiosidade. Que as pessoas entendam a pluralidade do Brasil e saibam apontar o Cariri no mapa, reconhecer a estampa do Espedito Seleiro, descobrir nossa cultura. Quero ampliar a visibilidade da minha região. Para o público cearense e nordestino, quero despertar orgulho. O Nordeste é múltiplo, mas estamos unidos pelo mesmo propósito cultural. Quero reforçar esse senso de pertencimento e potência. E para o Cariri, o sentimento é gratidão. O Cariri foi minha mãe e meu pai artisticamente. Tudo o que eu sou tudo o que ainda serei devo à cultura caririense. Então, para o meu povo, eu digo: muito obrigado. Recebam esse grande presente

DIVIRTA-CE - O projeto estreia no seu YouTube em quatro episódios, cada um com um olhar diferente. Ao pensar no impacto dessa obra dentro da sua trajetória - do stand-up "Assistiu Porque Quis" à sua marca Ispilicute, passando por cinema e séries - como você enxerga esse documentário reposicionando a sua própria identidade artística? Ele inaugura um "novo Max" ou reafirma o Max que sempre existiu?
MAX PETTERSON - Artisticamente, sempre fui de muitas vertentes. Sempre quis explorar várias áreas. No YouTube eu já tinha esse lado investigativo - desde a França eu ficava curioso sobre a história dos lugares. Foi aí que nasceu o Max da historiedade. Com o Cariri, não foi diferente. Sempre quis mostrar cultura, despertar curiosidade. E eu sinto que, no Eh do Cariri, nasce um Max mais profissional. Reuni uma equipe gigante, entreguei um conteúdo cinematográfico e de extrema qualidade dentro da realidade que tenho hoje. Esse projeto é um marco na minha carreira. É como dizer: 'eu estou responsável pelo meu próprio destino artístico'. E quando digo 'eu', não é sozinho porque não fiz nada sozinho. Mas no sentido de entender que hoje eu sou a minha própria emissora de televisão. E que bom que o público e as marcas apoiam e embarcam comigo nessa loucura linda que é ser artista

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