Cantor Simominha fez show em Fortaleza e conversou com o DIVIRTA-CE
A CAIXA Cultural Fortaleza recebeu o cantor Simoninha para show na Caixa Cultural Fortaleza, na Praia de Iracema. O projeto faz homenagem a Wilson Simonal, pai do músico, com sucessos que marcaram época e embalaram gerações.
O Baile do Simonal é uma viagem pela trajetória do artista, resgatando sua importância na música nacional e sua contribuição para o groove brasileiro.
DIVIRTA-CE - O projeto “O Baile do Simonal” nasceu como uma homenagem ao seu pai — mas, ao longo dos anos, como você enxerga que o espetáculo se transformou e evoluiu de uma simples remontagem de repertório para um “movimento” ou uma obra em si?
SIMONINHA - Eu acredito que o projeto realmente nasceu como uma homenagem e uma releitura, para as novas gerações, daquele repertório do Simonal, interpretado por vozes diversas e de vários espectros da música popular brasileira. Isso mostra a dimensão de como a música de Simonal era possível — e de como ela se enraizou na cultura brasileira, independentemente do segmento. Tínhamos Samuel Rosa, Ed Motta, Alexandre Pires, Seu Jorge, Péricles, Sandra de Sá, Caetano Veloso, a Orquestra Imperial, o Jota Quest na figura do Flauzino… Enfim, muitos universos musicais reunidos. O projeto já nasce com esse DNA e, a partir disso, vai se transformando.
DIVIRTA-CE - Seu pai viveu uma trajetória de enorme sucesso, mas também de grandes desafios e controvérsias. Como você internalizou esses dois lados ao assumir esse legado?
SIMONINHA - Olha, eu acho que essa trajetória quase “shakesperiana” do Simonal, sem dúvida, teve uma importância enorme na minha formação. E isso por vários motivos. Primeiro porque eu sempre tive facilidade — e também interesse — em conhecer muito do backstage: estar nos bastidores, aprender sobre produção, direção musical, entender as engrenagens que fazem tudo acontecer. Acredito que isso veio muito do fato de eu ter vivido nesse ambiente desde muito cedo. Essa dimensão trágica e grandiosa da história do Simonal, essa ascensão e queda tão marcantes, me proporcionou um olhar diferente sobre a música e sobre a carreira. Entendi, desde cedo, que tudo é passageiro, que o sucesso é passageiro.
O ESTADO - Considerando que você é, ao mesmo tempo, intérprete, produtor musical, diretor, empresário e pai de família, como você equilibra essas diferentes facetas?
SIMONINHA - Eu acho que é verdade o tlfato de eu me desdobrar em várias frentes, mas todas são ligadas à música. E eu sempre falo que o lugar que eu mais me sinto à vontade é em cima do palco, onde eu posso exercer o meu trabalho de uma forma muito especial e única. E essa coisa do sagrado e de olhar isso como realmente uma missão. Eu acho que isso eu aprendi com o meu pai e com companheiros deles, a geração deles, de como você lhe dá música. A música para mim nunca foi e nunca será um negócio. A música é uma missão.
DIVIRTA-CE - No show em Fortaleza, você vai se apresentar em um contexto regional — o Nordeste brasileiro tem uma tradição e um público com identidade própria em relação à música popular. Como você adapta ou interpreta o repertório do seu pai para esse público nordestino?
SIMONINHA - É sempre muito bom tocar no Nordeste. Sempre foi muito bem recebido. A minha música sempre foi bem recebida e meu pai sempre fez muito sucesso no Norte e Nordeste.
Eu acho que ele tem uma música dele, o swing, o groove, também passa muito pela música nordestina. O Simonal falava que dois das suas maiores influências que ele tinha muito na música dele eram a coisa do swing, muito do Jackson do Pandeiro, e o Inglês Gonzaga, que ele admirava, e era muito amigo também, enfim. Então isso, para mim, é muito natural e sempre fui bem recebido e gosto muito de poder tocar para as plateias do Norte e do Nordeste do Brasil.
Até porque é incrível como elas são abertas e receptivas, inteligentes, carinhosas.
DIVIRTA-CE - Quando você revisita músicas como “Mamãe passou açúcar em mim” ou “Nem vem que não tem” no Baile, qual é a sua abordagem artística: manter o arranjo original, dar uma nova roupagem ou permitir improvisações e reinterpretar com liberdade? E como isso dialoga com a memória afetiva do público que já conheceu aquelas faixas décadas atrás?
SIMONINHA - Olha, já fiz as duas formas quando eu revisito músicas. Ou lembrando sempre os arranjos originais ou brincando por um caminho diferente. Mas, eu gosto de lembrar os arranjos originais porque, por exemplo, nem bem que não tenha uma música que tem um arranjo muito que parece muito simples, mas a execução é aquele samba lento e é muito difícil de se executar bem, de se fazer da forma como foi como a gravação original acontece. Então eu acho legal a gente trazer isso porque é uma música que muita gente toca mas executá-la daquela forma com aquele andamento e com aquele swing é realmente muito difícil.
DIVIRTA-CE - A memória e o legado de Wilson Simonal envolvem uma mistura de samba, soul, humor e irreverência — a famosa “fase da pilantragem”. Como você vê essa expressão (“pilantragem”) hoje, em tempos diferentes, e como ela se manifesta no palco do Baile? Que elementos desta irreverência você acredita que continuam relevantes para o público contemporâneo?
SIMONINHA - A irreverência que o Simonal trouxe para a música brasileira, ela está aí espalhada por todos os cantos. Como o Simonal foi um artista que ficou apagado durante muito tempo e a sua importância ficou diluída e diminuída, as pessoas não sabiam de onde vinham determinadas coisas. Ele trouxe essa coisa da comunicação, dos grandes espetáculos. O Simonal inaugurou isso no Brasil. A praia das plateias cantarem e dançarem juntos. Isso praticamente não acontecia antes dos shows do Simonal.
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