Atriz fala com o DIVIRTA-CE sobre o poder transformador da comédia
A atriz Marisa Orth recebeu uma homenagem na 20ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto. Mais do que celebrar seus personagens inesquecíveis ou sua veia cômica afiadíssima, a mostra reconhece sua contribuição singular à construção de um humor que não foge da crítica, do feminino, do absurdo ou do trágico — e que insiste em desafiar estereótipos.
Ao ser escolhida como figura central da temática histórica desta edição — que lança luz sobre o papel do humor no cinema brasileiro sob a perspectiva das mulheres —, Marisa assume, com brilho e generosidade, a tarefa de representar esse “riso com memória”. “Estou honrada em ser essa presença que permite a gente falar de um cinema de humor de qualidade, que já teve grandes mestres e precisa ser redescoberto”, diz ela, em entrevista para o DIVIRTA-CE.
Marisa revisita sua trajetória com inteligência e humor raro — e com um desejo genuíno de fazer rir sem perder o pensamento. Como ela mesma define: “O humor é 50% da dramaturgia do mundo. Está na hora de tirá-lo do preconceito”. A 20ª CineOP acontece entre 25 e 30 de junho na cidade histórica mineira, com programação inteiramente gratuita, exibição de 147 filmes, realização de debates e rodas de conversa e promove encontros estratégicos de discussões de políticas públicas no campo da Preservação, do Cinema e Educação. Marisa Orth estará em Ouro Preto durante a mostra, participando de atividades públicas e da roda de conversa “O Riso das Medusas”, dia 26/6 (quarta-feira), às 11h30, na Praça Tiradentes, com participações da diretora Anna Muylaert, entre outras convidadas. A atividade discute a comicidade feminina no cinema, com foco em trajetórias, representações e desafios enfrentados por mulheres no audiovisual.
DIVIRTA-CE - Marisa, a CineOP celebra sua carreira multifacetada, que transita entre o cômico e o dramático. Quais aspectos de sua trajetória você acredita que mais dialogam com a proposta da mostra deste ano, que reflete sobre o papel do humor no cinema brasileiro a partir da perspectiva das mulheres?
MARISA ORTH - Primeiro, fiquei super honrada pela minha presença, servir para que a gente possa falar de cinema de humor de qualidade num país que já teve grandes mestres da comédia e que era uma fonte de divisas muito importante. Estou falando de um cinema lá do passado, de Sinédia, de Atlântida, de Veracruz.
Tem tanta comédia, tanta coisa boa, mesmo Mazarópia, enfim. E eu acho que agora as mulheres estão mais nesse papel engraçado. Ingrid Guimarães, Mônica Martelli, tem Samantha Schmutz, tem Tata Werneck. Eu também já fiz cinema de humor bastante. Vai ser ótimo, acho que a gente tem que falar sobre isso.
DIVIRTA-CE - Você já declarou que "o humor é gigantesco". Como você enxerga a evolução do humor feminino no audiovisual brasileiro ao longo das últimas décadas?
MARISA ORTH - Digo que o humor é gigantesco porque ele é outra máscara, né? Tem a máscara da tragédia e a máscara da comédia.
Sei que já é até clichê você falar hoje que ninguém valoriza a comédia, que ninguém dá Oscar para a melhor comediante... Apesar disso tudo, o humor é gigantesco. É 50% da dramaturgia do mundo. Seja no cinema, seja no teatro, seja em qualquer forma de arte. Então, sempre vale, a gente tem sempre que estar tirando o humor desse preconceito.
DIVIRTA-CE - Na roda de conversa "O Riso das Medusas", você discutirá a comicidade feminina no cinema. Quais representações ou desafios você acredita que ainda precisam ser abordados ou superados nesse contexto?
MARISA ORTH - Eu acho que começa essa história do humor da mulher falando sobre a condição da mulher, rindo de si mesma, rindo dessa coisa da mulher ter sempre que esperar um homem, questionando isso.
Uma mudança que aconteceu, começou com Bridget Jones, uma onda nos 90, até Como Eliminar Seu Chefe. É um humor que tem a ver com o renascimento, com o feminismo mesmo. E eu acho que cada vez mais cabe a mulher fazer piada sobre tudo, e não apenas sobre a sua condição de mulher.
DIVIRTA-CE - Você é lembrada até hoje pela personagem Magda, de "Sai de Baixo". Como você lida com essa identificação do público com seus personagens mais icônicos?
MARISA ORTH - Acho muito chique ser lembrada como a Magda. Eu já tive medo de ser esquecida para outras funções, mas acho que eu superei isso e o público também.
Eu vejo coisas engraçadas, porque eu falo assim, gente, você não sabe como a Magda está fazendo bem essa peça de teatro, é engraçado.
E eu lido muito bem. Acho que ela é uma personagem, em alguns momentos, maior que eu.
Acho que ainda vou ver outra atriz fazendo Magda.
DIVIRTA-CE - Em sua carreira, você transitou por diversos gêneros e mídias. Há algum papel ou projeto que você considera um divisor de águas em sua trajetória artística?
MARIDÃO ORTH - Em alguns divisores de água, sim. A peça Fica Comigo Essa Noite. O filme Não Quero falar Sobre Isso Agora, maravilhoso, do Mauro Farias, único executado no Brasil em 1990. Foi maravilhoso, uma comédia muito deliciosa, quando eu conheci o Mauro, o Evandro Mesquita e tanta gente boa. Eu trabalhei com a Lili Fonseca, também um belíssimo representante da mulher no humor, no cinema. Rainha da Sucata, minha primeira novela. Sai de baixo, sem a menor dúvida. Puxa vida. Vamos parar por isso, está bom.
DIVIRTA-CE - Você mencionou o desejo de interpretar vilãs e personagens mais desafiadores. Quais características você acredita que uma vilã precisa ter para ser convincente e impactante no palco ou nas telas?
MARISA ORTH - Acho que todos os atores do mundo um dia querem fazer um vilão, né? Eu já fiz um engraçado no longa do José Roberto Toureiro, Como Fazer um Filme de Amor - muito engraçado. E eu fazia Lilith, uma vilã, clichê, clichê, tinha até nome de vilã, ela tinha, Lilith. E ela é bem engraçada. Eu não sei, nunca fiz, né? Acho que uma mulher que não liga para o que os outros dizem já é uma vilã, né?
DIVIRTA-CE - Com tantos anos de carreira e diversos projetos realizados, quais são seus próximos desafios ou projetos que você ainda deseja explorar no universo artístico?
MARISA ORTH - Eu tenho, sem dúvida, muita vontade de fazer mais cinema. Que os cineastas se arrisquem a comprar essa briga. Nem tudo que eu faço fica com cara de Magda.
Eu posso fazer mil outros papéis.
Muito mais cinema. Gostaria de cinema de humor, que seja. E quero trabalhar a velha. Quero ver os papéis que a velhice, que a maturidade vai me trazer. É isso. Vontade de fazer todos.
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