Artistas viajam para Portugal, em novembro, para desenvolver projetos artísticos que revisitam papéis herdados pelas mulheres ao longo da história
Representantes da cena cultural do Ceará, as artistas Andreia Pires e Maria Epinefrina embarcam, em novembro, rumo a Portugal, para participar do programa internacional Travessias de Criação Porto-Central 2025. Na imersão criativa, as cearenses usam dança e teatro para construir projetos artísticos que revisitam vivências femininas, explorando memórias, questionando papéis herdados e revelando as muitas formas de existir como mulher ao longo do tempo.
Fruto da união entre a Central Elétrica do Porto (CRL) e a Porto Iracema das Artes – equipamento da Rede Pública de Equipamentos Culturais (RECE) da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult CE), gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM), o programa Travessias de Criação Porto-Central 2025 é uma residência internacional, que estimula o desenvolvimento de projetos artísticos a partir do encontro com outros contextos e territórios, visando o fortalecimento das conexões entre artistas do Ceará e de Portugal.
Na edição deste ano, uma das obras desenvolvidas é o espetáculo “Clemente”, da bailarina e atriz Andreia Pires. Combinando elementos do teatro e da dança, o projeto percorre as experiências e trajetórias de mulheres da família da artista, conectando vivências comuns que atravessam gerações.
“‘Clemente’ nasce a partir da morte da minha mãe. Então, é um trabalho que lida com a ausência e, ao mesmo tempo, a presença de todas as mulheres da minha família que ainda estão vivas. É como se [no projeto] o meu corpo trouxesse essas diversas presenças, que fazem parte de uma trajetória e que reúnem histórias e memórias. É uma dança que carrega menos significado e mais sensação”, explica a artista.
As vivências femininas também inspiram o trabalho da bailarina Maria Epinefrina em “Maldita”. A obra investiga, a partir de movimentos da dança, como mulheres insurgentes foram associadas, ao longo da história, a seres monstruosos em mitos e lendas, construindo uma composição coreográfica que reflete a culpa e o castigo historicamente impostos sobre as mulheres.
“É importante perceber como esses mitos, que parecem ser histórias do passado e que a gente não acessa mais, ainda nos atravessam. ‘Maldita’ é um trabalho violento, que realmente quer atacar, pisar em cima das cabeças, ser essa cobra, ser essa sereia que canta e arrasta os homens para a morte”, afirma a bailarina.
INTERCÂMBIO CULTURAL
Para desenvolver os projetos, as cearenses viajarão até a cidade do Porto, em Portugal, onde está localizada a sede da CRL. No centro de criação artística, a dupla viverá, entre os dias 1 e 15 de novembro, um período de imersão criativa e troca de experiências com artistas portugueses.
Conforme Levy Mota, coordenador do Laboratório de Teatro da Porto Iracema das Artes, o intercâmbio cultural será essencial na construção dos trabalhos: “É sempre importante a gente sair do nosso lugar porque a troca [cultural] é fundamental para o trabalho em arte. Esse deslocamento geográfico é muito importante para o artista, porque ele se vê em outros contextos, com outras pessoas”.
Durante o período em Portugal, as artistas contarão com hospedagem garantida pelo programa, além de ajuda de custo no valor total de R$ 6.500 por pessoa. A residência também fornece as passagens de ida e volta da dupla.
Após a finalização dos projetos, “Clemente” e “Maldita” serão apresentados em Portugal, conectando o público português à produção cultural cearense. No Brasil, as obras devem integrar a programação da 13ª Mostra de Artes da Porto Iracema (MOPI), no primeiro semestre de 2026.
“Para mim, vai ser uma realização muito grande, porque nunca apresentei nada fora do Brasil e meu sonho é poder circular com os meus trabalhos por vários lugares do mundo”, conta Epinefrina. “Então, estou ansiosa pelas trocas com os profissionais [da CRL] e com o próprio espaço, que é dedicado à pesquisa de corpo e cena. Eu, enquanto pesquisadora, fico muito entusiasmada de estar nesse espaço, vivendo esse momento de imersão”.
Fotos: Mar Pereira
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