sábado, 18 de outubro de 2025

Artistas cearenses propõem reflexão sobre vivências femininas em programa internacional Travessias de Criação Porto-Central 2025

Artistas viajam para Portugal, em novembro, para desenvolver projetos artísticos que revisitam papéis herdados pelas mulheres ao longo da história

Representantes da cena cultural do Ceará, as artistas Andreia Pires e Maria Epinefrina embarcam, em novembro, rumo a Portugal, para participar do programa internacional Travessias de Criação Porto-Central 2025. Na imersão criativa, as cearenses usam dança e teatro para construir projetos artísticos que revisitam vivências femininas, explorando memórias, questionando papéis herdados e revelando as muitas formas de existir como mulher ao longo do tempo.
Fruto da união entre a Central Elétrica do Porto (CRL) e a Porto Iracema das Artes – equipamento da Rede Pública de Equipamentos Culturais (RECE) da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult CE), gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM), o programa Travessias de Criação Porto-Central 2025 é uma residência internacional, que estimula o desenvolvimento de projetos artísticos a partir do encontro com outros contextos e territórios, visando o fortalecimento das conexões entre artistas do Ceará e de Portugal. 
Na edição deste ano, uma das obras desenvolvidas é o espetáculo “Clemente”, da bailarina e atriz Andreia Pires. Combinando elementos do teatro e da dança, o projeto percorre as experiências e trajetórias de mulheres da família da artista, conectando vivências comuns que atravessam gerações.
“‘Clemente’ nasce a partir da morte da minha mãe. Então, é um trabalho que lida com a ausência e, ao mesmo tempo, a presença de todas as mulheres da minha família que ainda estão vivas. É como se [no projeto] o meu corpo trouxesse essas diversas presenças, que fazem parte de uma trajetória e que reúnem histórias e memórias. É uma dança que carrega menos significado e mais sensação”, explica a artista. 
As vivências femininas também inspiram o trabalho da bailarina Maria Epinefrina em “Maldita”. A obra investiga, a partir de movimentos da dança, como mulheres insurgentes foram associadas, ao longo da história, a seres monstruosos em mitos e lendas, construindo uma composição coreográfica que reflete a culpa e o castigo historicamente impostos sobre as mulheres.
“É importante perceber como esses mitos, que parecem ser histórias do passado e que a gente não acessa mais, ainda nos atravessam. ‘Maldita’ é um trabalho violento, que realmente quer atacar, pisar em cima das cabeças, ser essa cobra, ser essa sereia que canta e arrasta os homens para a morte”, afirma a bailarina.

INTERCÂMBIO CULTURAL
Para desenvolver os projetos, as cearenses viajarão até a cidade do Porto, em Portugal, onde está localizada a sede da CRL. No centro de criação artística, a dupla viverá, entre os dias 1 e 15 de novembro, um período de imersão criativa e troca de experiências com artistas portugueses.
Conforme Levy Mota, coordenador do Laboratório de Teatro da Porto Iracema das Artes, o intercâmbio cultural será essencial na construção dos trabalhos: “É sempre importante a gente sair do nosso lugar porque a troca [cultural] é fundamental para o trabalho em arte. Esse deslocamento geográfico é muito importante para o artista, porque ele se vê em outros contextos, com outras pessoas”.
Durante o período em Portugal, as artistas contarão com hospedagem garantida pelo programa, além de ajuda de custo no valor total de R$ 6.500 por pessoa. A residência também fornece as passagens de ida e volta da dupla. 
Após a finalização dos projetos, “Clemente” e “Maldita” serão apresentados em Portugal, conectando o público português à produção cultural cearense. No Brasil, as obras devem integrar a programação da 13ª Mostra de Artes da Porto Iracema (MOPI), no primeiro semestre de 2026.
“Para mim, vai ser uma realização muito grande, porque nunca apresentei nada fora do Brasil e meu sonho é poder circular com os meus trabalhos por vários lugares do mundo”, conta Epinefrina. “Então, estou ansiosa pelas trocas com os profissionais [da CRL] e com o próprio espaço, que é dedicado à pesquisa de corpo e cena. Eu, enquanto pesquisadora, fico muito entusiasmada de estar nesse espaço, vivendo esse momento de imersão”.
Fotos: Mar Pereira

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