quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Desmatamento atinge quase todos os municípios da Caatinga e reforça a urgência de ações socioambientais

Associação Caatinga atua com criação de unidades de conservação e projetos de restauração para preservar o bioma e apoiar a população local

Um estudo de 2025 do MapBiomas, iniciativa que monitora o desmatamento no semiárido brasileiro, revela que praticamente todos os municípios do bioma Caatinga registram algum nível de desmatamento. Diferentemente de outros ecossistemas, como a Amazônia ou o Cerrado, onde as áreas desmatadas costumam ser extensas e contínuas, o desmatamento na Caatinga ocorre de forma difusa, com média de cerca de 10 hectares por evento. Segundo Diego Costa, geógrafo do MapBiomas, essa pulverização torna a fiscalização mais complexa e está muitas vezes ligada a atividades de subsistência ou a utilização extensiva do solo, exigindo políticas públicas adaptadas à realidade local.
O avanço do desmatamento nas zonas de desertificação é outro motivo de preocupação, já que essas áreas degradadas podem atingir um ponto de não retorno, comprometendo o solo, a biodiversidade, o microclima e a produtividade.
Para enfrentar esse cenário, a Associação Caatinga investe em iniciativas de restauração florestal. Até o momento, a instituição já restaurou 264,5 hectares, com o plantio de 300.882 mudas nativas. Dessas, 28.270 foram produzidas com a técnica de raízes alongadas, que utiliza canos de PVC como recipientes e garante maior desenvolvimento das plantas antes do plantio. O método alcança uma taxa de sobrevivência de 70%, mais que o dobro da média convencional de 30% na Caatinga, e se consolida como uma inovação eficaz para a conservação e a restauração ambiental da região.
Para Daniel Fernandes, diretor executivo da Associação Caatinga, agir preventivamente nessas zonas é uma urgência ambiental e social, o que torna indispensável adotar estratégias de monitoramento e políticas públicas locais que conciliem a conservação do bioma com o bem-estar das populações.
"Conservar a Caatinga vai muito além de proteger áreas naturais ou espécies nativas, é, também, apoiar as comunidades que vivem nesse bioma, oferecendo alternativas sustentáveis de produção, acesso à água e capacitações para a convivência com o semiárido. Nossos projetos unem preservação ambiental e desenvolvimento local, promovendo o uso de tecnologias sociais que ajudam as famílias a gerar renda e reduzir a pressão sobre o território. Acreditamos que só será possível proteger o bioma de forma efetiva se aliarmos ciência, educação e participação comunitária, fortalecendo a relação harmoniosa entre pessoas e natureza”, destaca Daniel Fernandes.
Unidades de conservação
A Associação Caatinga exerce um papel estratégico na criação e gestão de Unidades de Conservação (UC). A instituição mobiliza a sociedade, oferece apoio técnico e promove práticas sustentáveis, com o objetivo de criar áreas protegidas no bioma para preservar a biodiversidade local e, ao mesmo tempo, fortalecer as comunidades tradicionais por meio de iniciativas que conciliam conservação e desenvolvimento. “Assumir essa missão significa proteger a Caatinga e assegurar qualidade de vida às populações que nela vivem”, enfatiza Daniel.  Para isso, a entidade conta com equipe técnica especializada na elaboração de estudos e propostas detalhadas para criação de unidades de conservação, voltadas ao setor público e ao setor privado.
Até o momento, a Associação Caatinga
apoiou a criação de 33 Reservas Particulares do Patrimônio Natural e cinco unidades públicas, que juntas somam mais de 105 mil hectares protegidos, o equivalente a três vezes a área de Fortaleza, capital do Ceará. Essas iniciativas estão distribuídas entre os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí.
Entre essas reservas está a Reserva Natural Serra das Almas, uma RPPN de 6.285 hectares administrada pela Associação Caatinga, localizada entre Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), onde são desenvolvidas diversas ações socioambientais em parceria com as comunidades rurais do entorno. Uma das estratégias centrais da instituição é disseminar na região tecnologias sociais e técnicas de convivência com o semiárido, promovendo sustentabilidade, geração de renda e adaptação ao clima local. Entre elas estão cisternas de placas, canteiros biosépticos, fornos solares e fogões ecoeficientes, sistemas bioágua, meliponicultura, coletores de sementes e compostagem, todos voltados para otimizar recursos, recuperar áreas degradadas e apoiar as comunidades locais.
Além de distribuir essas tecnologias, a Associação Caatinga realiza capacitações, monitora as famílias beneficiadas e fornece materiais didáticos, garantindo o uso correto das soluções. Essa abordagem faz parte do Modelo Integrado de Conservação da Caatinga, uma estratégia que une preservação ambiental e geração de renda, mostrando que a conservação do bioma depende do envolvimento ativo das comunidades sertanejas.

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