A comédia de Carri Costa, fenômeno do teatro popular cearense, celebra duas décadas de sucesso nacional em uma única apresentação repleta da boa molecagem cearense e pitadas de crítica social
Quando o espetáculo As Vizinhas estreou no Teatro Dragão do Mar, em Fortaleza, no início de 2005, o dramaturgo Carri Costa talvez não imaginasse que estava dando vida a uma das obras mais longevas, populares e queridas do teatro cearense. Vinte anos depois, a comédia que transformou os corredores de um condomínio em um campo de batalha hilário retorna aos palcos para celebrar duas décadas de sucesso ininterrupto, com uma apresentação especial no Teatro RioMar Fortaleza, no dia 10 de agosto de 2025, às 20h.
Ao longo dessas duas décadas, As Vizinhas não apenas lotou plateias em Fortaleza, mas percorreu 19 cidades do interior do Ceará e fez turnês de sucesso em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. No total, mais de 120 mil pessoas já riram — e se identificaram — com as intrigas e confusões das vizinhas mais famosas da dramaturgia cearense. Para Carri Costa, essa longevidade tem uma explicação direta: “Essa peça é um espelho. A gente brinca, exagera, mas no fundo estamos mostrando aquilo que todo mundo já viveu de um jeito ou de outro. Quem nunca teve uma vizinha inplicante, ou foi a própria vizinha que implicava com tudo e todos?”, provoca o autor e diretor.
“As Vizinhas” parte de uma premissa simples e universal: duas mulheres de meia idade com personalidades e condições sociais completamente opostas são obrigadas a dividir o mesmo corredor de apartamentos em um condomínio popular. De um lado Idenilce Alcantara, uma senhora de alto padrão que perde tudo ao ser vítima de um divórcio duvidoso. Do outro Francisca Amarante ou Kika para os amigos, uma Merendeira de escola pública que acaba de entrar de férias. A convivência forçada entre essas duas figuras dá início a uma sequência de situações tragicômicas, onde fuxico, “catrueragem”, alcovitagem, despeito, marmotagem, inveja e muita fuleragem se transformam em combustível para a verdadeira “luta de classe do século” e tudo isso nos bastidores da vida em comunidade do “minha casa minha vida”.
“O grande barato dessa peça é mostrar que convivência nunca é fácil. A gente romantiza muito essa ideia de que as pessoas podem ser sempre civilizadas, mas na prática, basta um pequeno desentendimento e pronto: vira uma guerra de ego, de birra, de vaidade. E é aí que mora a comédia”, explica Carri Costa. O espetáculo se vale dessa tensão cotidiana para construir uma sátira de costumes, onde cada gesto, cada desaforo e cada fofoca carrega um retrato crítico das relações humanas.
A montagem segue a tradição do “teatro de situações”, onde os personagens são arrastados pelas circunstâncias ao invés de conduzi-las. Inspirado nas lições do dramaturgo italiano Dario Fo, Carri Costa afirma que a graça está no desequilíbrio: “No nosso teatro, a turbulência é mais importante do que a lógica. A gente não quer contar uma história linear, a gente quer provocar situações onde o público se veja encurralado junto com os personagens. O riso vem justamente do absurdo de tentar manter a pose quando tudo ao redor está desmoronando”, reflete.
A Cia Cearense de Molecagem, fundada em 1993, é a responsável por dar vida a esse tipo de encenação, cuja marca registrada é o olhar cearense sobre os absurdos do cotidiano. Com um trabalho de pesquisa contínua sobre a comicidade popular, a trupe transformou o conceito de molecagem em uma linguagem teatral própria. “A molecagem cearense é uma filosofia de vida. É a maneira como a gente se defende das adversidades com bom humor, com malícia, com aquela esperteza que faz a gente rir até das nossas próprias desventuras”, define Carri.
O espetáculo comemorativo de 20 anos contará com Carri Costa, Denis Lacerda e Solange Teixeira no elenco, três atores que dominam a arte da comicidade com precisão e espontaneidade. A produção é da APTECE – Associação dos Produtores Teatrais do Ceará, entidade fundada em 2002 com o objetivo de fomentar e fortalecer a cadeia produtiva das artes cênicas no estado. A cenografia, figurinos e adereços são assinados pela Oficina de Arte, com sonoplastia e iluminação de Adriano Pessoa, e contra-regragem de Nildenir Campos e Beatriz Alves.
Para Carri Costa, celebrar duas décadas de um espetáculo popular é uma vitória não apenas pessoal, mas coletiva. “A gente está falando de um teatro que nasceu das ruas, dos becos, das calçadas de Fortaleza. Um teatro que dialoga com a nossa cultura, com as nossas expressões. Chegar a 20 anos de apresentações com uma peça que foi feita pra rir das nossas manias, das nossas implicâncias, é uma conquista do povo cearense. É a prova de que a nossa cultura tem força, tem vida própria e não precisa se moldar a estereótipos pra ser respeitada”, afirma.
O espetáculo, mais do que uma celebração, é um convite ao público para refletir sobre a arte de conviver. “A vizinhança é uma metáfora perfeita para o Brasil. Todo mundo quer impor sua maneira de viver, todo mundo quer mandar no corredor. Mas no fim das contas, ou a gente aprende a rir das diferenças ou vamos transformar tudo em uma grande encrenca. Eu prefiro satirizar”, conclui Carri Costa.
SERVIÇO:
Espetáculo: As Vizinhas – 20 anos
Data: 10 de agosto de 2025
Horário: 20h
Local: Teatro RioMar Fortaleza
Ingressos: R$ 60 (inteira) | R$ 30 (meia)
Vendas: Plataforma Uhuu e bilheteria do Teatro
Classificação: 12 anos
Duração: 75 minutos
Contato: (85) 98517-2301
E-mail: carricosta@hotmail.com
FICHA TÉCNICA
Elenco: Carri Costa, Denis Lacerda e Solange Teixeira
Texto e Direção: Carri Costa
Figurino, Cenografia e Adereços: Oficina de Arte
Sonoplastia e Iluminação: Adriano Pessoa
Contra-Regra: Nildenir Campos e Beatriz Alves
Produção: APTECE – Associação dos Produtores Teatrais do Ceará
CARRI COSTA & TEATRO DA PRAIA
Nenhum comentário:
Postar um comentário