quinta-feira, 6 de novembro de 2025

A MENTIRA DAS DROGAS: especialistas alertam sobre presença de crack em maconha vendida no Brasil

Além da maconha, outras drogas como cocaína também vêm sendo adulteradas com substâncias tóxicas — entre elas, pó de vidro, mármore, anestésicos e até massa corrida — para aumentar o lucro do tráfico e enganar usuários


A má qualidade da maconha cultivada no Brasil está levando traficantes a recorrer a um expediente alarmante: a adição de crack ao entorpecente. O alerta foi feito por especialistas em toxicologia, que destacam os graves riscos à saúde provocados pela mistura. O motivo, segundo o diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas, Anthony Wong, é simples e perigoso: “Por ter maconha de baixa qualidade, o traficante adiciona crack para que o usuário tenha o chamado ‘barato’. Muitos jovens não conhecem o efeito da maconha e não se dão conta de que estão consumindo outro entorpecente, ainda mais nocivo e que vicia rapidamente.”

A planta cultivada em solo brasileiro possui uma concentração inferior a 1% de tetraidrocanabinol (THC), o princípio ativo da maconha responsável pelos efeitos psicoativos. Isso ocorre porque, na pressa de aumentar a produção, os cultivadores misturam plantas machos e fêmeas, arrancando toda a plantação, inclusive as partes de menor concentração da substância. Para completar, adicionam restos vegetais como sabugo de milho, casca de semente de café triturada, capim e até esterco.


O resultado é uma maconha de qualidade muito inferior à estrangeira — que costuma ter de 1% a 3% de THC — e que, para compensar o efeito reduzido, acaba sendo “turbinada” com crack, criando versões conhecidas no tráfico como bazuco, mesclado ou craconha. No Rio de Janeiro, por exemplo, o produto é vendido como uma nova droga, com a falsa promessa de que a maconha amenizaria o efeito do crack — mito que apenas agrava os danos ao organismo.

A prática de adulterar entorpecentes não é exclusiva da maconha. Segundo o Instituto de Criminalística, é comum que drogas como cocaína sejam misturadas com outras substâncias para enganar consumidores e aumentar o volume do produto. Entre os adulterantes mais utilizados estão anestésicos como a lidocaína, que simulam a dormência provocada pela droga, e diluentes como pó de vidro, mármore, gesso e massa corrida, que aumentam o peso da porção vendida.

Estudos da polícia indicam que a cocaína comercializada nas ruas contém, em média, apenas 25% da substância original — o restante é composto por elementos inertes ou tóxicos. “E muitas vezes a quantidade real de droga fica abaixo desse percentual”, afirma o delegado Luiz Carlos Freitas Magno, do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc).

Os riscos dessas misturas são devastadores. De acordo com o diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo, Elisaldo Carlini, partículas inorgânicas como o pó de mármore e o vidro não são eliminadas pelo corpo. “Se uma partícula de pó de mármore ficar alojada no pulmão, o organismo vai se defender e envolvê-la, perdendo a elasticidade — um quadro que chamamos de fibrose”, explica o especialista.

Carlini também alerta para o perigo da combinação entre cocaína e bebidas alcoólicas, especialmente as destiladas, que gera o cocaetileno, substância até 17 vezes mais tóxica e agressiva ao organismo.

O toxicologista Anthony Wong acrescenta outro agravante: quando usuários chegam a hospitais com crises provocadas pelo uso dessas misturas, muitas vezes os médicos não conseguem identificar rapidamente a substância responsável, o que dificulta o tratamento e pode ser fatal.

Diante desse cenário, os especialistas reforçam a importância de um diálogo franco entre pais e filhos sobre os riscos do consumo de drogas. “É fundamental que a conversa comece antes que surjam os primeiros sinais de uso”, recomenda Wong. Segundo ele, muitos adolescentes experimentam entorpecentes não pela curiosidade, mas pela pressão dos colegas — e acabam expostos a substâncias que nem imaginam estar consumindo.

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