segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Morre Janne Ruth, ícone da Dança no Ceará, diretora do Fendafor e do BCAD

Criadora do Festival Internacional de Dança de Fortaleza e da ONG Bailarinos de Cristo, Amor e Doações, Janne Ruth faleceu nesta segunda, 3/11, vítima de câncer de pulmão - a coreógrafa e educadora que transformou gerações e levou a dança cearense ao mapa do mundo

A dança do Ceará está de luto. Morreu nesta segunda-feira, 3 de novembro, aos 63 anos, a coreógrafa, diretora e educadora Janne Ruth, vítima de câncer de pulmão. Considerada o maior nome da dança do Ceará e uma das mais importantes referências artísticas e formativas do país, Janne construiu uma trajetória que atravessou décadas, palcos, comunidades, fronteiras e destinos individuais — e que colocou o Ceará como terra de excelência, força, disciplina e sensibilidade artística.
Fundadora do Fendafor — Festival Internacional de Dança de Fortaleza, e criadora do projeto social BCAD – Bailarinos de Cristo, Amor e Doação, reconhecido pela UNESCO e pelo Criança Esperança, Janne Ruth transformou a dança não apenas em espetáculo, mas em pedagogia de vida. Em suas palavras, repetidas em entrevistas e palestras, “a técnica disciplina o corpo, mas o amor disciplina a alma”. Essa era sua filosofia, que atravessava cada aula, cada ensaio e cada trajetória que passava por suas mãos.
Desde os anos 1980, Janne dirigiu uma das escolas de dança mais tradicionais do Estado e, em 1991, fundou sua companhia profissional, com a qual conquistou prêmios no Brasil e no exterior. Sua visão, rara e generosa, sempre esteve além do palco: ela via a dança como ferramenta de formação humana. “Não basta dançar bonito. É preciso ser bom, ser ético, ser trabalhador. A arte educa o caráter”, afirmou certa vez, explicando a vocação social que marcaria sua obra.
A partir dos anos 2000, Janne elevou sua missão a um novo patamar ao criar o Fendafor, festival que colocou Fortaleza na rota internacional da dança e ofereceu aos jovens cearenses oportunidades de formação, intercâmbio e visibilidade artística que antes pareciam inatingíveis. Com teimosia visionária, transformou vontade em política cultural e escreveu, na prática, a história de acesso, formação e democratização da arte no Ceará. “O palco é direito de todos. Talento existe em todas as periferias — o que falta é porta e mão estendida”, disse em uma de suas falas em projetos sociais, resumindo sua visão de arte como justiça e futuro.
Mas foi com o BCAD - Bailarinos de Cristo, Amor e Doações, que sua obra alcançou seu sentido mais profundo. O projeto, criado para acolher crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, tornou-se um dos mais reconhecidos trabalhos socioculturais do país, formando bailarinos, professores, artistas e cidadãos — e salvando vidas através da disciplina, da fé e da arte. “Quando um jovem descobre que consegue fazer um salto limpo, ele também descobre que consegue mudar a vida”, afirmava, em uma defesa visceral de que o movimento físico conduz ao movimento social.
Sua metodologia, misturando rigor técnico, ética cristã, sensibilidade afetiva e excelência cênica, formou gerações de artistas que hoje trabalham em companhias nacionais e internacionais, universidades, escolas e projetos culturais, carregando um DNA que o Ceará reconhece à primeira vista: postura, verdade, disciplina e emoção.
Janne também assumiu papel institucional, atuando no Conselho Brasileiro da Dança e fortalecendo pontes com organismos internacionais. Foi gestora, produtora, articuladora, ativista da arte e, sobretudo, mestra. Até quando a saúde pediu silêncio, ela seguiu guiando e apoiando seus jovens, conversando com pais, incentivando conquistas, buscando caminhos. “Não parem. A arte não pode parar. É por vocês que eu sigo”, disse em sua última aparição pública em um evento cultural.
Sua morte deixa um vazio imenso nos palcos, nas academias de dança e no coração da cultura cearense. Nomes passam — mas obras permanecem. E a obra de Janne Ruth permanece viva no chão dos teatros, na madeira das barras, na esperança dos jovens, na fé das mães que confiaram seus filhos à dança, e no corpo da cidade, que aprendeu com ela que cultura é formação, transformação e destino.
Os detalhes sobre velório e despedida serão divulgados pela família. A dança do Ceará, hoje, dobra o joelho não apenas em reverência — mas em gratidão. Como ela dizia aos alunos, antes de cada apresentação: “Entrem no palco com verdade. A verdade é o que fica”.

UMA VIDA DEDICADA À DANÇA 
Janne Ruth começou a ministrar aulas de Ballet Clássico e Moderno em 1977, na escola Dora Andrade e em alguns colégios de Fortaleza.
Em 1980 foi professora da Academia Sati Dance de Sara Fhilomeno e de 1979 a 1985 permaneceu também com Dora Andrade na sua Escola de Dança de Sobral onde era professora de Ballet Clássico, Dança Moderna, Ginástica estética, Jazz, Dança Contemporânea e Baby Class’s. Em 1983 concluiu seus estudos de Teatro sob a orientação da grande mestra Dercy Gonçalves e Professor Antonio Pompeu na cidade do Rio de Janeiro.
Em 1980 ingressou na Universidade de Fortaleza no curso de Geologia. Em 1981 inaugurou sua primeira Escola de Dança em Fortaleza e Permanece até hoje completando 41 anos de existência, fez especialização em Dança na Dance Center, escola filiada a Faculdade Católica da Bahia.
Janne, em uma de suas últimas fotos, na edição 2025 do Fendafor 

Como coreógrafa tem cursos e participações em Festivais nas diversas cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belém, Recife, Amazonas, Salvador, Campina Grande, Teresina, João Pessoa, Goiânia, e no exterior, como em Praga – República Tcheca, França, Inglaterra, Bélgica, Itália, Espanha, Chile, Argentina e Colômbia, sendo premiada em vários deles.

Estudou com grandes Maitres no Brasil e no exterior entre eles; Eugenia Feodoro (RJ), Hugo Bianchi (Ce), Dilma Smith (RJ), Lenny Deile (RJ), Carlota Portela (RJ), Dalal Achcar (RJ), Marika Gidale (SP), Décio Otelo (SP), Mario Nascimento (SP), Denis Gray (RJ), Jô Jô Smith (USA)), Dora Andrade (CE), Jair Morais (PR), Wilma Vernon (RJ), Stefâny Montredea (USA),   etc. Fez mestrado pela UNIC – União Internacional de Intercâmbio Cultural – Brasil, Nova York e França e especializou-se em Dança Contemporânea.
Nessas várias décadas de Escola de Ballet Janne Ruth, sua vida foi totalmente direcionada para a Dança e o Teatro e nesses anos de trabalho social o foco foi o resgate da esperança e dos sonhos de jovens cearenses. Janne Ruth criou, administra, executalou e coordenou todos os programas desenvolvidos na Instituição, ajudou outras ONG’s a desenvolver programas e projetos de sustentabilidade de suas ações, em 1999 lançou o Programa “Arte e Construção da Cidadania”, 2001 o Programa “Dançando, Brincando, Criando e Aprendendo”, em 2003 o “Arte e Movimento pela Vida”, em 2005 lançou o Programa “Ação e Cidadania”, 2010 Criou o Programa De Passo em Passo Promovendo a Inclusão através da Arte, Cultura, Esporte e Educação, entre outros até criar o Arte, Cultura e comunidade em 2019, no qual ganhou o criança esperança, parceria da Uesco e Rede Globo  e em 2011 criou um Programa específico em qualificação para agentes do interior do estado do Ceará, chamado Vila Cultural, Qualificação e intercâmbio cultural para monitores do interior do Ceará, (hoje modelo na Paraíba, Rio Grande Do Norte e Bahia).
Desde então passou a ser convidada a proferir palestras e defender a tese de como a arte têm o poder de transformação na vida de milhares de Crianças, adolescentes e Jovens, atua ainda como critica e jurada de dança em inúmeros Festivais Nacionais e internacionais do Brasil e no exterior
Em 2024, Janne Ruth e seu marido, o diretor José Hélio Flávio, com Felipe Palhano e Iarael Oliveira do DIVIRTA-CE 

“Millenium”, “Kobras: Do Homem ao Animal”, “Lado a Lado”, “Labirinto”, “Sozinho”, “Terra, Sem Eira Nem Beira”, “Vida, Nós Existimos”, “No Nordeste é Assim”, “Califon” “O quinze” são alguns dos  espetáculos montados pelo BCAD e pela Cia. de Dança Janne Ruth e premiados em diversos festivais do planeta, sempre abordando temas relacionados à problemática social e questões atuais, promovendo um exercício de reflexão e discussão da realidade que queremos para o nosso país e para o mundo. Também com o intuito de transformar a dura realidade da juventude cearense, apresentando a arte como nova forma de viver.

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