Em setembro de 1935, o empresário norte-americano Herbert Johnson Jr. deu início à Expedição Carnaúba, uma das jornadas mais marcantes da história da SC Johnson, fabricante global de marcas de consumo doméstico como OFF!® e Lysoform®. A bordo de um hidroavião Sikorsky S-38, batizado com o nome da palmeira símbolo do semiárido, ele e sua equipe cruzaram mais de 24 mil quilômetros, dos Estados Unidos até o Nordeste do Brasil, para conhecer a fundo a produção da cera de carnaúba — matéria-prima essencial para os produtos da empresa à época.
A expedição foi movida por mais do que uma necessidade comercial. Representou uma visão ousada e pioneira de conexão com a natureza, de valorização dos saberes locais e de investimento em inovação sustentável. A carnaúba, chamada de “Árvore da Vida” pelos brasileiros, fascinou Herbert Johnson Jr. tanto por sua resiliência e pela importância social, econômica e ecológica que carrega. Em Fortaleza, ele iniciaria ainda os planos de um centro de pesquisa voltado à planta, dando os primeiros passos para um relacionamento duradouro com o Brasil.
O Ceará, especialmente, desempenhou papel central nessa jornada. A riqueza dos carnaubais locais garantiu à SC Johnson o fornecimento sustentável da cera que impulsionou a expansão global das famosas Ceras Johnson para mais de 100 países. Em retribuição, a companhia deixou importantes legados no estado. Em 1937, adquiriu uma área em Maracanaú para a instalação do Centro de Pesquisa da Fazenda Raposa, mais tarde doada à Escola de Agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e transformada, em 2020, em uma Unidade de Conservação. Além disso, em 1963, Herbert fundou a Escola Johnson, hoje integrada à rede pública de ensino do Ceará como uma Escola de Ensino em Tempo Integral.
Com a morte de Herbert Johnson, em 1978, seu filho Samuel Johnson assumiu a liderança da companhia. Em 1998, ele homenageou o legado do pai ao repetir sua histórica expedição, pilotando uma réplica do mesmo modelo de avião. A nova jornada simbolizou tanto uma conexão emocional com o passado, como também o fortalecimento de um compromisso com a sustentabilidade. No Ceará, Samuel instituiu um fundo patrimonial voltado à conservação da Caatinga, o que viabilizou a criação da Reserva Natural Serra das Almas — uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) com 6.285 hectares, situada na divisa entre o Ceará e o Piauí. Essa iniciativa culminou, posteriormente, na fundação da Associação Caatinga (AC), hoje reconhecida como referência na preservação e recuperação do único bioma exclusivamente brasileiro, onde floresce a carnaúba.
‘Mais que uma história inspiradora, repleta de aventura e empreendedorismo, a Expedição Carnaúba simboliza a construção de legado socioambiental que tem gerado impactos positivos na proteção da Caatinga, conservação da biodiversidade e desenvolvimento local sustentável no semiárido’, destaca Daniel Fernandes, coordenador geral da Associação Caatinga.
‘Ao completar 90 anos, a Expedição Carnaúba segue como uma referência inspiradora de coragem, visão e compromisso com as futuras gerações. Seu legado permanece vivo nas ações da Associação Caatinga, que há mais de duas décadas atua pela proteção da biodiversidade do semiárido brasileiro’, destaca Roberto Macedo, conselheiro deliberativo da Associação Caatinga. “Que o espírito visionário das Expedições Carnaúba continue a florescer, inspirando novas gerações a cultivar a coragem, o respeito pela natureza e o compromisso com um futuro mais sustentável para o nosso semiárido”, complementa Roberto, que também foi o primeiro presidente do conselho da AC.
Os interessados em saber mais sobre as expedições podem conferir o documentário ‘Carnaúba – À Memória de Meu Pai’, disponível no canal da Associação Caatinga no YouTube - https://www.youtube.com/watch?v=5ouc36S35FQ.
Da aventura ao legado: o nascimento da Reserva Natural Serra das Almas
Com os recursos oriundos do fundo filantrópico criado por Samuel Johnson após a expedição de 1998, a Associação Caatinga deu um passo decisivo em sua trajetória: a compra das terras que deram origem à Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), localizada na divisa entre os estados do Ceará e do Piauí.
Criada em 2000, a reserva é um dos maiores exemplos de conservação da Caatinga — o único bioma exclusivamente brasileiro. Com 6.285 hectares protegidos, é a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Ceará e abriga uma diversidade riquíssima de flora e fauna, incluindo espécies ameaçadas de extinção, como o tatu-bola e o periquito cara-suja.
Além da proteção da biodiversidade, a RNSA também contribui para a oferta de serviços ecossistêmicos, como o escoamento evitado de 4,7 bilhões de litros de água por ano e o estoque de mais de 1,6 milhão de toneladas de CO₂ equivalente, que ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Reconhecida pela Unesco como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga, a Reserva Natural Serra das Almas integra conservação ambiental, pesquisa científica, turismo ecológico e desenvolvimento sustentável. São quarenta comunidades do entorno envolvidas em projetos socioambientais, com foco na geração de renda e na convivência com o semiárido, por meio do Modelo Integrado de Preservação da Caatinga.
A estrutura da reserva conta com trilhas ecológicas, alojamentos, viveiros, meliponário, torre de observação e exposições educativas, e está aberta à visitação mediante agendamento. Assim, a Serra das Almas se consolida tanto como um santuário natural, mas também como um modelo de como a conservação pode transformar realidades.
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