POR FELIPE PALHANO: Bong Joon Ho retorna à direção com uma obra visualmente impressionante, carregada de críticas sociais, e com atuações memoráveis de Robert Pattinson (foto) e Mark Ruffalo
“Mickey 17” é uma fusão única de ficção científica com sátira política afiada, assinada pelo mestre Bong Joon Ho, que retorna ao comando de um longa-metragem após o estrondoso sucesso de Parasita (2019). Mais uma vez, o cineasta sul-coreano revela sua habilidade inconfundível em misturar gêneros, oferecendo ao público uma experiência que vai muito além das expectativas iniciais de um filme de ficção científica.
A história segue Mickey Barnes (Robert Pattinson), um homem que, após se envolver em uma série de problemas financeiros, assina um contrato sem ler as cláusulas para ser "descartável" e embarca na missão de conquistar um planeta distante. A missão, no entanto, toma rumos inesperados quando Mickey se vê preso a um ciclo de morte e ressurreição, causado pela necessidade de sua constante "recriação" como parte da classe dos Descartáveis. A trama ganha contornos de um thriller existencial quando Mickey descobre que sua própria duplicata existe, colocando em risco toda a missão e sua própria identidade. A narrativa é movida por uma busca urgente por respostas, enquanto o protagonista tenta evitar ser apagado da história.
Bong Joon Ho utiliza essa premissa para explorar questões humanas e sociais, com uma crítica mordaz àqueles que ocupam posições de poder. Embora o filme seja uma trama de ficção científica envolvente, o que realmente se destaca é a sátira política que percorre a história. E é aqui que Mark Ruffalo brilha como nunca antes. Seu personagem, Kenneth Marshall, um político desajeitado e excessivamente confiante, é uma verdadeira pérola do cinema, uma mistura de Trump com Elon Musk. Ruffalo entrega uma performance hilária, recheada de expressões exageradas e momentos cômicos que nos fazem rir a cada aparição sua. Ele cria um personagem que, ao mesmo tempo em que nos faz gargalhar, também serve de crítica mordaz àqueles que ocupam cargos de poder sem a competência necessária.
Ruffalo se entrega completamente ao papel, entregando uma performance cheia de nuances, mas sempre no tom perfeito. Suas tentativas desastradas de parecer mais inteligente do que realmente é, suas gafe ridículas e sua constante necessidade de ter alguém ao seu lado para completar suas falas são de um nível cômico excepcional. Se alguém já havia visto Ruffalo em papéis cômicos no passado, ele eleva essa performance a um novo patamar, sendo, sem dúvida, o grande destaque do filme.
Junto a ele, Toni Collette também faz um trabalho maravilhoso como Ylfa, esposa de Kenneth. Sua atuação traz uma camada adicional de mistério e ambiguidade à história, mas é o conjunto da dupla que realmente faz os momentos de sátira funcionarem de maneira perfeita. O humor surge, mas também nos faz questionar as falhas e a ingenuidade daqueles que tomam decisões importantes para o futuro da humanidade.
Visualmente, "Mickey 17" é um deleite. Os efeitos especiais são impressionantes, especialmente nas cenas de interação entre Mickey e sua duplicata, onde o realismo da clonagem acaba virando também motivo de piada. A direção de arte também está em alta, criando um universo futurista que parece palpável e crível. As sequências de ação, embora intrigantes, são equilibradas com momentos de reflexão mais lenta, onde o filme realmente brilha na exploração das relações humanas.
Apesar dos altos e baixos em alguns momentos de ritmo e desenvolvimento de certos personagens, como o de Steven Yeun, que é um pouco subaproveitado, "Mickey 17" se destaca pela sua originalidade, profundidade e, principalmente, pelo trabalho impecável de seu elenco. Um filme que mistura o melhor da crítica social com a leveza da comédia, fazendo-nos pensar e, ao mesmo tempo, nos divertir como há muito tempo não acontecia.
MICKEY 17
Cotação
⭐⭐⭐⭐ Ótimo
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