sábado, 10 de maio de 2025

Patrimônio Cultural Brasileiro, Barraca Biruta faz manifestação neste domingo para evitar demolição na Praia do Futuro

Um dos únicos espaços para shows nacionais e de artistas cearenses nos anos 90, a Biruta não pode ser demolida após a sanção da Lei 15.092, de 2025, que declarou as barracas da Praia do Futuro como patrimônio cultural brasileiro

Há 35 anos, um ponto na orla leste de Fortaleza se tornava referência de inovação, liberdade criativa e encontro de gerações: a Barraca Biruta. Fundada em 31 de dezembro de 1990 por Fernando Vilela Sales, colecionador, DJ, produtor e agitador cultural, com seu sócio Rubens Barrocas, a Biruta transcendeu o conceito de barraca de praia para se tornar um verdadeiro centro de efervescência artística e musical do Ceará nos anos 90. Hoje, após cinco anos de portas fechadas, o espaço luta para não desaparecer de vez da paisagem afetiva e cultural de Fortaleza.

Com um histórico de festas temáticas autorais, apresentações de artistas locais, nacionais e internacionais, quando na cidade de Fortaleza não existia Carnaval, Pré Carnaval nem apresentações em datas comemorativas, era na Biruta que a população podia assistir mestres da música do Brasil, e onde os artistas cearenses se apresentavam. 
O fechamento repentino em março de 2020, com o decreto da pandemia da Covid-19, foi um golpe duro para o espaço, que já operava exclusivamente como casa de eventos. 

A tentativa de arrendamento do espaço, em 2023, acabou frustrada com o rompimento unilateral do contrato por parte do arrendatário, sem que houvesse quitação de débitos ou qualquer reforma iniciada. Em abril o proprietário Fernando Vilela recebeu um prazo absurdo de 30 dias para solucionar alguns problemas apontados Secretaria do Patrimônio da União (SPU) - caso não conseguisse solucionar algumas dívidas de taxas e alguns ajustes estruturais a barraca seria demolida nesse curto espaço de tempo. Fernando já solucionou todos as pendências, com a ajuda de advogados e da sociedade civil. 

Com a sanção da Lei 15.092, de 2025, que declarou as barracas da Praia do Futuro patrimônio cultural brasileiro, cresceu a mobilização por soluções definitivas para a reabertura da Biruta. Vale lembrar que, no que diz respeito ao critério "eventos culturais", nenhuma outra barraca contribuiu tanto quanto a Biruta para a cidade de Fortaleza, com sua intensa e diversa programação.

Ausência de centros culturais na região e potencial de transformação
A Praia do Futuro, apesar de ser um dos principais cartões-postais de Fortaleza, não conta atualmente com nenhum centro cultural público ou privado voltado à comunidade local. A ausência de espaços formais de cultura e arte afeta principalmente os jovens das comunidades carentes no entorno, que carecem de oportunidades de acesso à formação artística e profissional.

Nesse contexto, Fernando Vilela propõe uma associação com o poder público para que a Biruta se transforme em um centro cultural de fato — não apenas um espaço de festas, mas de promoção de arte, oficinas, cursos profissionalizantes e iniciativas culturais voltadas à juventude. “A Biruta pode ser vetor de descentralização cultural no Ceará, alinhada às diretrizes do Estado e da cidade. Podemos ser um polo de arte, cultura e formação profissional na Praia do Futuro”, defende.

Um abaixo-assinado com dezenas de assinaturas de artistas cearenses vem ganhando força nas redes sociais. Para fortalecer a mobilização, Fernando e apoiadores preparam uma grande ação cultural no local, neste domingo às 16h20, nesse evento que pretende atrair visibilidade e chamar atenção para a necessidade de salvar esse patrimônio afetivo e artístico de Fortaleza.

Operação Praia Limpa e desafios estruturais
Em abril a Praia do Futuro foi palco da Operação Praia Limpa, coordenada pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em parceria com a Prefeitura de Fortaleza. Durante a primeira fase da operação, foram retirados equipamentos de 23 estabelecimentos que estavam em local inadequado, atrapalhando o fluxo de pedestres e viaturas que precisam circular pela praia. A ação atendeu a recomendação do Ministério Público Federal, que recomenda a remoção de obstáculos na faixa de praia e a demolição de construções sem autorização da União.

Para os comerciantes que tiveram suas barracas destruídas, a falta de uma notificação prévia sobre a operação dificultou a remoção dos materiais e, segundo eles, alguns itens chegaram a ser levados pela Prefeitura. A massoterapeuta Manuella Oliveira, que perdeu sua única fonte de renda com a demolição de sua barraca, lamentou a falta de aviso prévio e a perda de seu meio de sustento.

Resistência e futuro
A história da Biruta é também a história da Fortaleza cultural, livre e criativa. A sua reabertura — agora, com nova função social — pode simbolizar o reencontro de gerações e a construção de um futuro mais inclusivo para a Praia do Futuro, transformando um espaço emblemático de lazer em instrumento de cidadania, arte e transformação social.

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